Sem saber o que fazer em Lisboa? Passar uma tarde no Chiado nunca é mal pensado!
Depois do primeiro capítulo Free Walking Tour Lisboa I: A Baixa Lisboeta, vamos desta vez fazer uma tour mais calma dentro das ruas a subir e descer do lindíssimo, antigo e clássico bairro do Chiado. Aconselhamos-te sempre a apreciar as fachadas das lojas enquanto percorres as suas ruas, pois há verdadeiros tesouros arquitétonicos de outras eras que não podes perder! De facto é um dos bairros de Lisboa que melhor conseguiu aliar o passado à actualidade, mantendo a sua história sem ficar parado no tempo.
Como Chegar?
A paragem fica ali mesmo à porta, no topo da rua. Na linha azul, a saída de metro da Baixa-Chiado dá-te acesso direto sem teres de andar muito. Se preferires outras opções tens também autocarros vindos de diversas zonas de Lisboa, e o famoso eléctrico 28, que ainda mantém o aspecto original dos elétricos Lisboetas.
Praça Luís de Camões
Para te facilitarmos a vida, e em vez de teres de descer tudo para depois teres de subir novamente, recomendamos que vás primeiro à Praça Luís de Camões, também conhecida como Largo Camões. Fica logo à direita, assim que sais da estação de metro.
A estátua de bronze que fica no centro da praça foi erguida em 1867 e é uma homenagem ao escritor Luís de Camões, com uma coroa de louros a adornar a sua cabeça, uma espada na sua mão esquerda, e aquele que é considerado o seu maior trabalho - "Os Lusíadas" -, na sua mão direita. À sua volta estão pequenas estátuas de pedra que correspondem a outras personalidades portuguesas - os cronistas Fernão Lopes e Gomes Eanes de Azurara; os poetas Jerónimo Corte Real, Francisco de Sá Meneses e Vasco de Quevedo; os historiadores Fernão Lopes de Castanheda e João de Barros; o matemático e cosmógrafo Pedro Nunes. As imagens de sereias e embarcações criados em calçada portuguesa à volta da estátua evocam o seu famoso poema épico.
Este largo separa os bairros do Chiado e Bairro Alto e é um dos pontos de encontro favoritos da capital, especialmente durante a noite, sendo também uma das paragens do famoso elétrico 28.
Café A Brasileira
Atravessando a estrada da Praça Luís de Camões para o Largo Chiado, vais ver um café chamado "A Brasileira", ou como se escrevia no ano da sua abertura, "A Brazileira". É um dos mais velhos e mais famosos cafés da cidade e foi aberto em 1905 por Adrian Telles como forma de importar e vender café brasileiro do estado de Minas Gerais, um produto que não era geralmente apreciado pelos Lisboetas da altura - para o promover, Telles oferecia uma chávena de café a quem comprasse 1 quilo de café moído. Este foi também o primeiro local a vender a famosa bica, uma pequena chávena de café forte semelhante ao espresso.
Em 1908 foi remodelado para se tornar um café como o conhecemos hoje, e em 1922 foi novamente remodelado ao estilo Art-Deco, pelo arquiteto José Pacheco.
Depois do nascimento da República, "A Brasileira" terá sido, ao longo dos tempos, um ponto de encontro para intelectuais, artistas, escritores e pensadores - um dos quais Fernando Pessoa, cuja estátua em bronze se senta a observar quem ali bebe o seu café. Foi aqui também que se estabeleceu a famosa revista Orpheu - trimestral de literatura vanguardista que inspirou inúmeros movimentos literários.
A Vida Portuguesa
Depois de teres bebido um café ao lado de Fernando Pessoa, esperamos que não te importes de fazer um pequeno desvio até à Rua Anchieta para dar uma espreitadela a esta loja singular. Fica a 2 minutos a pé, virando à direita antes da Bertrand, e prometemos que não te vais arrepender.
Esta loja, que abriu primeiro no Chiado e agora está espalhada por vários sítios de Lisboa e Porto, nasceu de um projeto de investigação da jornalista Catarina Portas acerca dos antigos produtos portugueses que ainda se produzem e mantêm as embalagens originais.
Aqui, encontram-se produtos de marcas que atravessaram gerações e cuja longevidade se deve à qualidade dos seus produtos, tais como a Viarco ou a Ach Brito. A Vida Portuguesa é outro grande exemplo de como o passado e o presente interagem e criam sinergias.
Livraria Bertrand
De volta à Rua Garrett, depois de teres comprado umas latas de sardinha como souvenir, encontras esta livraria, que é a mais antiga do mundo ainda a operar, entrando até no Livro de Recordes do Guinness por essa mesma razão.
Fundada em 1732 por Pedro Faure, esta já foi paragem de diversas personalidades literárias portuguesas, como Alexandre Herculano, Eça de Queirós, Antero de Quental e Ramalho Ortigão, que passavam pela Bertrand para conversar com os amigos ou participar em acesas tertúlias.
Armazéns do Chiado
Depois de teres descido a Rua Garrett toda, vais encontrar um edifício com um letreiro que diz Armazéns do Chiado. Este é um bom exemplo de como o Chiado conseguiu fazer a ponte entre o passado e o presente, ligando o histórico ao contemporâneo.
Os Grandes Armazéns do Chiado trouxeram a Lisboa, em 1894, o tipo de comércio cosmopolita que existia em Paris, com um espaço comercial amplo e variado. Aqui eram vendidas jóias, perfumes, entre outros produtos. Foi assim que os Armazéns se tornaram um local de referência para o comércio na cidade, gozando de grande sucesso.
Com o incêndio de 25 de Agosto de 1988, todo o espaço terá sido destruído, entrando em situação de falência técnica. Mas em 1995 foi posto em marcha o projeto do conhecido arquitecto Álvaro Siza Vieira, que foi concebido em 1989. Com a estrutura e a fachada exterior reabilitadas, o espaço foi convertido num centro comercial moderno, o qual tem tido, surpreendentemente, o mesmo êxito e importância que os antigos Grandes Armazéns detinham.
Lisboa, Cidade do Fado
Ao descer a Rua do Carmo, depois de uma visita aos Armazéns, ouves o trinar de guitarras e começas a tentar perceber de onde vem. Segues o som e vais deparar-te com um pequeno carro verde, com aspecto antigo, a promover o fado e a vender CD's dos melhores fadistas que Portugal viu nascer.
Silêncio, que se vai cantar o fado! Ainda que não compres nada, aconselhamos-te a apreciar o Chiado ao som de Amália ou Mariza. Se alguma vez te perderes em Lisboa e ouvires este som à distância, vais saber imediatamente onde estás.
Lojas do Chiado
O comércio na cidade de Lisboa sempre foi de grande importância e as lojas históricas estão espalhadas por toda a cidade. A própria Câmara Municipal decidiu distinguir as lojas da capital com um legado histórico.
Um desses exemplos é a luvaria Ulisses, que é a última loja em Portugal dedicada exclusivamente à venda de luvas, as quais são em pele e estão disponíveis em todas as cores. Está embutida na Muralha do Carmo desde 1925 e conta com interiores bastante bem preservados e móveis de inspiração império, com uma fachada neoclássica que chama a atenção de quem por lá passa.
Elevador de Santa Justa
Convento do Carmo
À saída do Elevador de Santa Justa, irás dar de caras com o Museu Arqueológico do Carmo, também conhecido como Convento do Carmo ou Ruínas do Carmo, uma vez que se situam no Largo do Carmo. Este já terá sido a principal igreja gótica da capital, em concorrência à Sé de Lisboa pela sua grandez e monumentalidade.
Mas durante o terramoto de 1755, a sua estrutura não sobreviveu por inteiro e não terá sido reconstruída, tornando-se então um dos principais testemunhos visíveis da catástrofe que se fez sentir. Restam as suas ruínas, que abrigam o Museu Arqueológico do Carmo.
A conhecida expressão "cair o Carmo e a Trindade" advém deste terramoto, onde tanto o Convento do Carmo como o vizinho Convento da Trindade foram destruídos.
Largo do Carmo
Rodeado de jacarandás, este largo abriga o Convento do Carmo, o Chafariz do Carmo e o Quartel do Carmo, pertencente à Guarda Nacional Republicana. Este último teve um papel central no que foi a Revolução de 25 de Abril de 1974, pois foi o local escolhido por Marcello Caetano para se refugiar da mesma, acabando por se tornar o palco principal do evento histórico, pois foi aqui que se rendeu o Estado Novo perante os militares. É possível observar no chão a inscrição que homenageia Salgueiro Maia e marca para sempre este período da história, não só da cidade de Lisboa, mas do país inteiro.
Hoje, o largo está repleto de esplanadas onde é possível descansar e observar a vida Lisboeta, tendo sido também palco de diversas filmagens de ficção ou documentário, assim como filmes publicitários.
E para acabar o dia?
Agora que já conheceste o dia no Chiado, podes conhecer a noite nos bares do Bairro Alto e apreciar a paisagem no miradouro enquanto bebes um mojito. Parece a solução perfeita para acabar a noite, mas não te esqueças que se ficares hospedado longe da zona da Baixa-Chiado, o metro só funciona até à 1h. A melhor solução é apanhares o autocarro ou ficares num dos nossos hostels!