Rayane, a menina do blog que tem tanto para contar! E agora até tem um projecto novo com medidas sustentáveis! Lê e começa a seguir!
1) Olá, Rayane. Foste tu que tiveste a ideia de começar o AzWanderlust, certo? O que te inspirou?
Sempre gostei de viajar. Minha primeira viagem sozinha foi em 2001 para o Chile. Para mim, a viagem começa antes de chegar ao destino. Pesquiso sobre o destino, vejo os meios de transporte públicos, procuro passeios que me façam conhecer a cultura local e viver a experiência do cotidiano da cidade.
Tive a ideia de criar um blog de viagem depois que fiz uma viagem à Europa para comemorar meus 30 anos, em 2015. Escolhi os palcos da 2ª Guerra Mundial para traçar o roteiro. Visitei a Holanda, Alemanha, Polônia, República Tcheca, Hungria, Áustria e Espanha em quase 40 dias.
Como sempre gostei de viajar e sempre pesquiso muito antes de chegar no destino, muitos amigos e familiares sempre pediam dicas sobre diversos locais, inclusive pediam para fazer seus roteiros.
Em 2016, finalmente fundei o blog de viagem AzWanderlust para compartilhar minhas experiências e concentrar todas as informações dos destinos que passei em um único lugar. Assim, facilitaria na hora de passar as informações que os amigos e familiares pediam.
Com o AzWanderlust, descobri que amo escrever, principalmente sobre os lugares que já visitei.
O que me inspirou a criar o AzWanderlust, foi a referência que as pessoas próximas a mim têm ao lembrarem de mim sempre que o assunto é relacionado à viagem.
Meu jeito de viajar é um pouco diferente do turista convencional, pois eu sempre dou um tema a próxima viagem.
2) Qual foi a primeira história no blog e qual foi a tua estratégia para chegares aos leitores e seguidores que tens hoje?
O primeiro artigo que escrevi no AzWanderlust foi uma crônica sobre A primeira vez que vi a neve, que foi a viagem que fiz ao Chile. Nela conto como foi esquiar e fazer snowboard e atropelar o mesmo Senhor três vezes seguidas. Também dou dicas de Onde esquiar no Chile.
O primeiro destino que escrevi para o blog foi a Holanda. Eu amei o país e dou várias dicas sobre transporte público, como andar a pé em Amsterdam, curiosidades sobre as casas tortas e muita coisa interessante que não encontrei em outros blogs de viagem.
Minha estratégia para conquistar os seguidores e leitores do blog é muito simples: escrevo as dicas que eu gostaria de ler em outros blogs.
Sou detalhista e perfeccionista, então gosto de colocar todas as informações, tanto para quem vai viajar pela primeira vez, como para quem já viaja há muito tempo.
Gosto de escrever crônicas e fazer com que o leitor viva aquela experiência que vivi. Que ria, chore, se preocupe e se divirta com a experiência que tive. E que ela inspire mais pessoas a viajar e conhecer lugares incríveis não somente visitando os pontos turísticos.
3) Qual é a tua viagem de sonho?
Tenho vários destinos que ainda não tirei da lista de desejos. Na verdade, não tenho uma viagem de sonho. Tenho várias...
Quero conhecer cada canto do mundo e aprender com suas histórias e culturas. Contudo, se eu tivesse que escolher somente uma viagem, escolheria viajar pelo Sudeste Asiático.
4) Qual a tua viagem preferida até hoje?
Minha viagem preferida até hoje foi a que fiz pela Europa para comemorar meus 30 anos. Não só pelo tema que escolhi (2ª Guerra Mundial), mas porque ela fez minha vida mudar completamente. Por causa dela, comecei a dar mais valor as coisas que antes não dava e resolvi largar a profissão que me formei, fisioterapia, para abraçar o mundo e conhecê-lo.
Durante a viagem, doei roupas pelo caminho e me entreguei de corpo e alma para conhecer melhor cada cidade que passei.
Mudei meu jeito de viajar e de planejar viagens.
5) Conta-nos um momento engraçado numa viagem e um momento menos bom.
Como gosto de escrever crônicas, vou contar uma sobre um momento engraçado e outra sobre um momento ruim que já passei.
Momento engraçado
Faria meu primeiro Safári da vida. O destino escolhido foi a África do Sul, mais precisamento no Kruger National Park.
Era minha primeira vez na áfrica e não poderia deixar de conhecer os BIG FIVE no seu habitat natural.
Ainda no Brasil, sonhava com esse momento e fechei com uma agência de turismo sul-africana pela internet.
O estilo da viagem parecia interessante. Eles me pegariam em Joanesburgo e ficaria viajando por 4 dias dentro de um jipe.
Já na áfrica, sonhava com esse passeio todos os dias.
No dia da aventura, o jipe chegou no local marcado e olhei de relance para ele. Estava cheio. Provavelmente seria a última turista. O carro estacionou e o motorista desceu.
- Você é a Rayane? - perguntou o motorista em inglês.
- Sim, sou eu. - respondi em inglês.
O motorista apontou para a mala preta enorme que estava do meu lado e perguntou em inglês:
- Você vai viajar com essa mala?
Olhei para a mala e com o "olhometro", medi o tamanho da bagagem comparando com os meus 1,60cm. A mala deveria ter uns oitenta centrímetros, pois ela batia na minha cintura. Senti arrependimento de ter levado aquela bagagem.
- Sim. Ela vai comigo. - respondi em inglês. Afinal, minha imensa mala teria que ir comigo, pois não tinha com quem deixar.
O motorista olhou novamente para a mala gigante e revirou os olhos. Tentei ler seus pensamentos e cheguei à conclusão de que ele havia pensando que eu era louca por carregar aquela mala para fazer um Safári no Kruger Park. Pensando bem, ele tinha razão. "Por que diabos levei aquela mala gigante? Nunca mais faço isso!", pensei.
O motorista me acompanhou ao jipe. Quer dizer, ele foi andando na frente e eu o seguindo arrastando a gigantesca mala.
Cheguei na escada do jipe, olhei para a minúscula porta e depois para a enorme mala. "Será que ela vai passar?", perguntei mentalmente.
- Sua mala não vai caber no bagageiro. Tem certeza que vai levar a mala? - o motorista insistiu em inglês.
Subi as escadas do jipe e olhei em volta. O local estava cheio e havia somente 4 poltronas vazias. Olhei para o bagageiro que ficava em cima dos assentos.
- Minha gigantesca mala não caberá neste minúsculo bagageiro. - disse em português em alto e bom som. Sabia que o motorista não entenderia o que havia falado, ainda mais em português.
Senti os olhares dos viajantes que já estavam acomodados em seus assentos, revirando a cabeça ora olhando para mim, ora para a mala que estava no asfalto do estacionamento.
- Há mais turistas para o senhor pegar? - perguntei ao motorista em inglês.
- Não. Você é a última. - o motorista disse.
Desci as escadas e aproximei-me da enorme mala que havia escolhido para me acompanhar na viagem à África do Sul. Se arrependimento matasse, estaria morta naquele momento.
O motorista entrou no veículo e eu arrastei a malona até a porta do jipe.
Fiz um esforço aqui, outro ali e consegui subir sozinha pelas escadas com a mala. "O motorista não vai me ajudar mesmo!", pensei.
A mala parou no corredor e não conseguiu adentrar mais o jipe. Seu tamanho parecia duplicado naquele ambiente cheio de mochilas, aos olhos dos viajantes que não sabiam o que era mala de rodinha há um bom tempo. Me senti um ET.
Olhei para as 4 poltronas vazias e tive uma ideia. Elas eram as primeiras, quase coladas com a janela que dividia a parte do motorista com a parte dos passageiros.
Ergui a mala como se estivesse erguendo um enorme bloco de pedra e a coloquei no banco ao lado do que iria sentar.
"Já que minha malinha não cabe no minúsculo bagageiro, ela vai ao meu lado.", disse em pensamento.
- Você quer ajuda? - uma moça perguntou em português.
Senti as bochechas do meu rosto corarem. "Brasileiro é igual água, com certeza tem um aqui!", pensei ao mesmo tempo que morria de vergonha de ter de olhar para a moça brasileira.
- Obrigada. Já consegui um lugar para a enorme mala que trouxe. - disse envergonhada enquanto apontava para a a mala que estava no assento ao lado.
- Realmente é muito grande! - a moça foi sincera - Mas como não tem mais turistas para pegar, acredito que não haverá problemas da mala ficar aí.
Quando levantei-me para apresentar-me à moça, olhei de relance para os outros passageiros. Alguns riam, outros não estavam nem aí.
Antes que eu abrisse a boca para falar algo, ouvi a voz do motorista:
- Como a mala é grande e não cabe no bagageiro, o único jeito é levá-la sobre um dos assentos. Você teve sorte que o carro não está com a lotação máxima.
Agradeci com a cabeça. Não tinha mais o que falar. Naquele momento, eu era a viajante da mala gigantesca e tudo o que eu falasse posteriormente poderia ser jogado contra mim. Não sabia que era obrigatório levar bagagem de mão ou uma mochila, e esse episódio já havia sido o suficiente para eu passar a viagem toda envergonhada.
"Ah, quer saber, não vou mais me preocupar com isso. O motorista deixou a mala ficar no assento. Agora é só curtir a viagem acompanhada da enorme mala", disse mentalmente.
A vergonha passou rapidamente, quando os outros viajantes me acolheram calorosamente como se nada tivesse acontecido. Afinal, quando a gente viaja, a gente encontra pessoas de todos os jeitos e costumes.
Desencanei.
O Safári dos BIG FIVE também foi o Safári da BIG BAG, apelido carinhoso que os outros viajantes colocaram em mim.
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Momento ruim
Em um súbito impulso de conferir se o próximo trem que pagaria estava confirmado, me dirigi ao balcão de informações da Estação de Metrô de Colônia, na Alemanha.
- Boa tarde, gostaria de saber se este trem sairá no horário. ― entreguei o bilhete para o Senhor Italiano que trabalhava na estação.
Depois de alguns minutos, o italiano falou em inglês:
- Este trem foi cancelado.
- Não entendi direto. Mudou de horário? ― tinha entendido, mas não queria acreditar. Imagina minha aflição?
- Foi cancelado. ― sem se importar, ele disse rispidamente.
- E agora o que eu faço? ― perguntei. Comecei a ficar desesperada. Até o momento, não tinha passado por grandes perrengues e não sabia como lidar com o que estava prestes a acontecer.
- Não sei. Não é problema meu. ― o italiano respondeu sem compaixão.
- Preciso seguir viagem hoje. Qual o próximo horário? ― precisava achar uma solução.
- Às cinco horas. ― ele disse.
- Cinco horas da manhã? Não tem algum trem que saia antes? ― estava realmente desesperada.
- Não. ― ele foi frio.
- Posso trocar o bilhete para este horário então? ― perguntei.
Ele pegou o papel e não disse nada. Depois me entregou e continuou sem dizer nada.
- O que aconteceu? ― perguntei desconfiada.
- Você pode pegar o trem das cinco. ― ele disse olhando para a tela do computador.
- O trem das cinco? ― queria confirmar.
- Sim. ― ele disse friamente, de novo.
- Obrigada. ― fui educada.
Desnorteada, saí do guichê. Eram sete horas da noite e não tinha onde ficar. Não encontrei vaga com preços que cabiam no meu orçamento, nos hotéis próximos a estação. Tive que dormir na estação.
Estava enganada. Não virei à noite com viajantes sem dinheiro. Estava acompanhada de refugiados sem-teto. Cansada e com sono, procurei um local mais silencioso para tentar dormir. Encontrei uma cadeira perto de outra entrada da estação, onde as lojas já estavam fechadas. Sentei, estiquei as pernas sobre a mala, coloquei a mochila sobre colo, vesti o capuz e deitei o tronco sobre a mochila na tentativa de fechar os olhos e dormir.
Alguns minutos depois, escutei uma gritaria e abri os olhos. Olhei para o lado e vi um homem fazendo xixi, ali mesmo dentro da estação, a poucos metros de mim. Entrei em desespero. O frio aumentou, tanto do ambiente como dentro da minha barriga. Estava sozinha em um país que não sei falar a língua. Descobri mais tarde, que nos momentos tensos, outro idioma vira uma língua fluente. Peguei meus pertences e fui para um lugar mais movimentado. Olhei no relógio, eram dez e meia da noite. A noite foi longa, você não imagina o quanto.
Deitada em outro banco, fui interrompida da minha segunda tentativa em dormir com uma cutucada no braço e uma frase em alemão. Abri os olhos sonolentos e vi quatro guardas em minha frente.
- Desculpe-me, pode repetir? ― balbuciei em português. Ainda estava desnorteada.
O Senhor de uniforme preto repetiu o que disse.
- Desculpe-me, pode repedir? ― perguntei em inglês, sentando-me no banco.
- Você não pode ficar deitada. ― a mulher do grupo fardado disse em inglês.
- Ok. ― disse por fim.
Olhei no relógio, ainda eram onze horas e trinta da noite.
Passei a noite toda com os olhos fechados, mas acordada. Qualquer barulho fazia meu coração saltar até a boca. O frio aumentava. Às quatro horas uma lanchonete abriu as portas. Comprei um sanduíche e um refrigerante. Precisava comer antes de ir para a plataforma e finalmente pegar o trem.
6) Já sei que o AzWanderlust está com um novo projecto. Queres falar acerca dele e de como surgiu a ideia?
Sim, o AzWanderlust está com o projeto Passaporte Sustentável, onde vou percorrer o Brasil em 2019 em busca de hotéis sustentáveis, ecoturismo e dicas de sustentabilidade.
O projeto surgiu quando vim morar na Bahia e percebi que muitos viajantes e empreendedores pouco se importam com o meio ambiente e as questões culturais e sociais dos locais que visitam ou empreendem. Vi muito descaso.
Embora eu já desse várias dicas de como ser um viajante responsável e consciente no AzWanderlust, senti a necessidade de dar um foco maior na questão sustentável e inspirar mais pessoas a procurar hotéis, agências e empreendimentos que se preocupem com o meio ambiente, com a sociedade e com a economia local.
Foi quando surgiu o Passaporte Sustentável, que tem como objetivo mostrar que o turismo sustentável é divertido, acessível e que não precisamos mudar drasticamente nossos hábitos para tornar o mundo melhor. Que basta apenas olharmos o turismo com outros olhos, pensando no futuro daquela região que visitamos. Que se não pudermos fazer algo para ajudar, podemos fazer sim algo para não atrapalhar.