Entrevista com Catarina, a blogueira do Wandering Life

22/11/2017

Mãe, curiosa e sempre disposta a contar os factos de tudo o que vê - é assim que é a Catarina

1) Olá, Catarina. O nome recente do seu blog é "Wandering life" mas inicialmente sempre foi "Viajar pela história". A ideia do blog surgiu essencialmente porque é muito curiosa, não é verdade? Conte-nos mais!

Olá Marta! Sim é verdade. Eu comecei a passear em Portugal, com os meus pais. E nesses primeiros passeios, falávamos bastante sobre tudo o que víamos, para que pudéssemos perceber realmente o que estava à nossa frente.

A curiosidade e interesse sobre tudo o que nos rodeia ficaram, tanto para as viagens como para muitos outros aspetos da minha vida. Para a construção do blog foi algo que teve uma clara influência.

2) Este blog tem algo de particular que é contar a história do sítio em questão, ou seja, não é só tirar tirar fotografias, dar dicas do local e já está. Porque decidiu fazer assim? Acha que é o seu ponto diferenciador de muitos blogs que andam por aí?

Antes de decidir ser blogger de viagens procurei conhecer o que já existia no mercado, o que as pessoas procuram saber e refleti sobre o que eu poderia acrescentar de interessante e diferenciador.

Verifiquei que a esmagadora maioria dos blogs aborda questões práticas, tais como a melhor maneira de chegar ao aeroporto ou quais os 10 melhores locais a visitar; ou a visão pessoal em que o viajante relata a sua experiência. Eu não digo que este tipo de blogs não seja extremamente pertinente e interessante. São, sem dúvida. Eu quando viajo também quero saber tudo isto.

Catarina

Mas para mim, faltava uma outra perspetiva, que no fundo pudesse complementar tudo o que já foi escrito sobre o mundo. Penso que faz sentido dar alguma informação que possibilite ter uma experiência de viagem mais completa e não tirar só uma foto para o instagram!

Se formos ao Rio de Janeiro poderá ser muito interessante saber como surgiu o Corcovado ou se formos a Marrakesh conhecer a razão pela qual é conhecida como cidade rosa ou qual é a história da famosa Praça Jemma el-Fna, o que já lá aconteceu.

3) Li no seu blog que já esteve em 36 países, em 4 continentes, mas que os que a marcaram mais foram as viagens no continente asiático e africano. Pode explicar porquê?

Eu comecei por viajar para mais perto, primeiro em Portugal e depois para países da Europa mais ou menos perto. Até que decidi ir a Marrocos e tive uma experiência muito mais enriquedora. É um país com uma tradição, cultura, língua, história e paisagem totalmente diferente do que eu tinha visto até então e isso foi incrível sentir. Já voltei várias vezes a Marrocos e de todas as vezes a Marrakesh, que é uma cidade pela qual sou totalmente apaixonada. Gosto muito de andar sem destino pelas ruas dos souks e da praça e de fazer parte de toda a movimentação, tal como muitas outras pessoas o fazem há muitos e muitos anos. Quando não estou lá, tenho sempre saudades...

Marraquexe

Algum tempo depois de ter ido a primeira vez a Marrocos viajei até à Índia e durante vários anos seguintes a outros países da Ásia. É onde eu mais gosto de estar (além de Marrakesh claro!). Adoro o clima, a cultura, a forma diferente de viver, o caos das cidades, a comida. Sair do aeroporto direta para uma noite quente onde posso andar confortável de chinelos e t-shirt, jantar numa banca de rua em Saigão ou Bangkok é algo que eu poderia fazer todos os dias e para sempre!

De entre os países asiáticos que conheço foi a Índia que mais me marcou. É um local que eu já desejava conhecer há algum tempo. Foi muito enriquecedor ver a dinâmica das cidades, como funciona o sistema de castas, como são tratados os mortos, os deuses e vacas, a riqueza da sua arquitetura. Ver tudo isto fez-me pensar um pouco sobre a minha forma de viver. Acho que ninguém fica igual depois de uma viagem à Índia.

Índia

4) Visto que gosta de apreciar tudo, qual a sua opinião sobre hostels?

Durante muitos anos sempre fiquei em hostels quando viajava e gostei muito da experiência. É bom ficar num local não demasiado grande e impessoal , que seja acolhedor, prático, económico e onde exista um clima muito propenso a estabelecer amizades e convivío entre pessoas de todo o mundo. São aspetos muito atrativos.

Mas a minha vida mudou um pouco e por isso não tenho ficado em hostels. Antes viajava com amigos e era mais nova! Agora tenho uma filha de 3 anos e viajo com ela desde os seus 2 meses. E por isso tornou-se importante ficar num local mais sossegado e com outro conforto.

5) Como é viajar com a sua filha? (diferenças e como foi começar essa nova fase)

Viajar é algo que faz parte de mim por isso quando a minha filha nasceu, nem me ocorreu que fosse parar de o fazer. Mas claro que houve mudanças.

Até então apenas alinhava o destino e as datas com os meus amigos e lá iamos. A partir do momento em que a minha filha me começou a acompanhar, o planeamento da viagem tornou-se um pouco diferente. Passei a ser mais cautelosa com a escolha do destino e do alojamento, por exemplo.

A viagem em si também mudou um pouco. Não tanto o ritmo, mas mais o tipo de coisas a visitar. Procuro ver o que considero interessante e integrar sempre atividades e/ou locais que também sejam para ela. E mostrar-lhe tudo isso é fantástico. O olhar curioso e deslumbrado dela inspira-me a olhar o mundo da mesma forma.

5) Pode contar alguma história engraçada de uma das suas viagens que ficou marcada para a vida?

Nassau

Há uma história que aconteceu há uns anos em Nassau (Bahamas) que foi algo que nunca me esquecerei. Estava com 3 amigos a explorar a ilha de de carro, quando decidimos parar. Tinhamos uma praia só para nós! Com todo o tempo do mundo estendemos as toalhas, apanhámos sol e fomos dar um passeio a pé.

Depois de termos andado um pouco percebemos que estávamos perto de um local com casas magníficas, verdadeiras mansões. Deparámo-nos inicialmente com uma rede entre duas árvores que estavam na praia. Sentámo-nos e tirámos a foto da praxe! Seguidamente começámos a apercebermo-nos da casa lindíssima a espreitar por entre as árvores, que se econtrava mesmo atrás da rede onde nos tinhamos sentado.

Estávamos completamente maravilhados com a casa e não havia sinal dos donos e por isso resolvemos aproximar-nos. Uma autêntica mansão, sem qualquer vedação, mesmo sobre a areia da praia, a poucos metros do mar. Começámos então por entrar num pequeno anexo que se encontrava junto ao edifício principal. Era uma pequena casa branca e redonda, com dois pisos, aberta para o exterior, com sofás e paredes cobertas de vidro. Saímos deste anexo e dirigimo-nos para as traseiras da casa principal. Passámos por um campo de areia com uma rede de voleibol e por uma zona de baloiços. Não havia qualquer sinal de ocupação. Estava tudo muito bem arrumado mas ao mesmo tempo dava a entender que alguém tinha estado ali há bem pouco tempo. Na piscina havia uma bóia de criança a flutuar ao sabor da suave uma brisa que se fazia sentir.

Lembro-me bem de ver a bóia e de o meu coração ficar super acelerado! Nesta altura pensei: mas para onde foram as pessoas que deviam estar aqui há (aparentemente) uns minutos atrás? Parecia estar numa casa fantasma!

O edifício principal tinha uma parte com divisões abertas, sem portas e com poucas paredes, com várias salas que serviam apenas para estar. Existiam umas escadas que subiam para outra zona com quartos e a sala principal, zona esta que se encontrava trancada, mas que era possível espreitar pelas enormes superfícies vidradas.

Ao sair do interior da casa (das zonas abertas) passámos por uma zona relvada com barbecue e estávamos lentamente a deslocarmo-nos para a praia. Neste momento não sei bem de onde, apareceu um cão que surgiu como um vulto e ficou ali a contemplar-nos em silêncio, tão perplexo como nós. Simultâneamente os aspersores da zona relvada começaram a funcionar, penso que devido à chegada do cão. Ainda mais assustados ficámos!

Por um lado queriamos começar a correr, mas sentiamo-nos imobilizados, com uma sensação de pânico e indecisão perante esta situação totalmente inesperada. Acabámos por sair a uma velocidade que procurava equilibar o pânico e o desejo de fugir. Por fim, lá chegámos à praia.

Mais recentemente estava a ver na televisão um filme do James Bond, o Casino Royale. Nesse filme o ator principal persegue uma outra personagem que morava numa casa maravilhosa que me pareceu familiar... acreditem ou não era a casa onde eu tinha estado...

6) Para finalizar, o que aprecia mais quando viaja?

O que mais gosto é a forma como me faz sentir. Sinto-me melhor, mais feliz e mais completa. Adoro o desafio de chegar a um sítio novo e não conhecer nada, ninguém, não entender a língua que se fala e escreve. É o colocar-me em situações novas, que me fazem sair do que conheço e do que estou habituada. É ver outras coisas, nem mais bonitas ou feias, apenas diferentes do que conheço.

Quando viajo percebo que há muitas formas de viver, que nenhuma está errada e que há espaço para todas elas. E também que muitas vezes não dou valor a coisas que tenho como adquiridas e que não o são em muitos sitios do mundo...

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